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Encontro do “Alverne” deixa um legado de ‘Virtuosidade Franciscana’

02/07/2024
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Encontro do “Alverne” deixa um legado de ‘Virtuosidade Franciscana’

Aproximadamente 40 jovens e lideranças participaram do 1° Alverne do Estado do Espírito Santo na Paróquia Santa Clara de Assis, de Colatina (ES) no último final de semana do mês de junho. O encontro foi conduzido pelo mestre em espiritualidade franciscana, Frei Vitório Mazzuco, e pela equipe da Pastoral Universitária da Universidade São Francisco (USF), de Bragança Paulista (SP). Este evento faz parte do itinerário das Juventudes da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil!

O “Alverne” é um Encontro de Formação e Espiritualidade e possui uma organização com três etapas temáticas, a saber: “O caminho da espiritualidade franciscana”; “Encarnação, Eucaristia e Paixão”; “As virtudes cavalheiras”. O último tema, com enfoque na virtuosidade franciscana, foi escolhido para o encontro de Colatina.

No sábado (29/06), Frei Vitório iniciou a formação oferecendo aos participantes uma visão geral da virtuosidade, a partir do Código da Cavalaria Medieval que contempla as virtudes “Fidelidade, Lealdade, Obediência, Controle das palavras, Vassalidade (ser serviçal), Nobreza de costumes, Prodigalidade, Cortesia, Prudência, Coragem, Gentileza e Heroísmo”.

AMOR, CORTÊS CAVALEIRESCO
“Façamos uma reflexão  sobre um dos pontos deste nosso percurso de Espiritualidade que aborda o Código da Cavalaria Medieval como uma fonte inspiracional das virtudes sob a ótica franciscana. Francisco e Clara de Assis viveram na época medieval, tempo este que nos revela uma nítida cultura de amor. Hoje nós, pós-modernos temos um velado preconceito sobre a Idade Média, que vaza para nós no redutivo conceito do obscurantismo da idade das trevas, da inquisição ou do conservadorismo, mas vamos deixar qualquer leitura ideologicamente assim definida, e façamos uma pergunta: tem a nossa atualidade histórica hoje uma cultura de amor? Pois a Idade Média tinha e de um modo muito nítido. É neste período que nasce, cresce e é abraçado como um projeto de vida o Ideal do Amor Cortês Cavaleiresco”, introduziu o frade.

Frei Vitório explicou então o que é e o que inspira o ‘Amor Cortês Cavaleiresco’. Segundo ele, no meio de uma civilização rude, que conhece as batalhas, ambição,  fastígio da glória e das conquistas, o choque entre permanecer no ciclo fechado de um feudalismo dominando ou abrir-se para uma nova civilização fez surgir uma nova linguagem, um novo costume, um sentimento novo, um novo código de comportamento.

“O cavaleiro não é somente um célebre arquétipo de um imaginário sempre fascinante, mas foi o meio com o qual o ocidente cristão encarnou, organizou, e defendeu o próprio ideal de humanidade e de sociedade. Um símbolo vindo de longe, porém com uma orientação profunda, que ergueu uma ética e uma espiritualidade diferente daquela dos círculos eclesiásticos; pode-se dizer que criou uma moral leiga. O cavaleiro surge também como uma figura de edificação moral do combatente autônomo e do exército que servia os senhores feudais, uma afirmação concreta da cristandade entre os leigos, uma divulgação apaixonada do humano e do sagrado. Aí é que reside o seu ponto de atração ainda hoje vital; e o chamado que continua a fazer e exercitar constitui o lado mais profundo do interesse de hoje sobre a função da civilização medieval, num tempo atual onde vivemos uma profunda e geral crise de valores e falência do caráter”, explicou.

Neste sentido, Frei Vitório apresentou aos jovens e lideranças a temática do heroi e sua importância para a cavalaria. “É um tema que não envelhece em toda a história da humanidade. O heroi se coloca a serviço de um ideal e nos dá meios para realizar uma tarefa evolutiva. Ele nos recorda que qualquer um pode empreender a jornada interior e assumir a tarefa de se tornar completo”, frisou.

Assim, sublinhou que para aqueles que recebiam a investidura era exigida também a mudança de costumes e a prática de virtudes. O cavaleiro devia ser sempre um exemplo vivo da conversão dos costumes, prática de caridade, e usar as armas a serviço dos oprimidos e necessitados, ter muita disciplina, cuidar do corpo que está a serviço da milícia.

“Tinha que ter consciência que era um peregrino neste mundo, e que precisava organizar, cada lugar do mundo, segundo sua bondade, isto é, respeitando as forças estabelecidas, organizando, mesmo nas situações mais caóticas um modelo de ordem celeste. A cavalaria quis ser um estado superior, um modo de viver, por isso soube gozar verdadeiramente, numa imensidade jamais perdida, as coisas, os fatos e a vida. Continua ainda a atrair, continua a evocar, no sonho e no mito, e nos vem dizer que ainda existe uma tarefa para se cumprir”, ensinou Frei Vitório.

A VIRTUOSIDADE FRANCISCANA
No segundo momento da manhã, Frei Vitório dividiu os participantes em cinco grupos e os convidou a lerem o texto que preparou sobre a “Virtuosidade Franciscana”. Ressaltou que a palavra virtude é a força que brota dos valores: “Se refere à disposição, ao ânimo do ser humano e a uma qualidade pertencente ao gênero humano em buscar maior qualidade”.

Desta forma, os grupos refletiram e em plenário compartilharam suas ideias. A participante Janaina Zanetti disse que virtude é o poder, a força do ser humano em assumir toda a sua responsabilidade de tornar vivo o que mais possui de próprio. “É o que nos impulsiona na vida e na fraternidade, o que nos coloca de frente e nos fortalece. Virtude está no meio, podemos alcançá-la de todas as formas em nossa caminhada”, ressaltou. “Já virtuosidade é fazer a diferença, aquilo que desperta dentro de cada um de nós. Fazer a busca incansável do bem. Transmitir o bem, calmaria, disposição. A pessoa virtuosa transforma o seu ambiente e as pessoas que estão ao seu redor, fazendo as pessoas florescerem por dentro com suas belezas”, acrescentou 

Frei Vitório lembrou que a virtuosidade vem do berço e que todos carregam valores que estão adormecidos e que precisam despertar. “Se você desperta uma virtuosidade as coisas começam a mudar”, completou.

Elziane Sian Ribeiro, partilhou sobre os sete dons do Espírito Santo. Segundo ela, a palavra dom pode ser associada a dominus, que é Deus, o Senhor da casa. Os frutos são elementos necessários para construir ideais. Lembrou a todos dos sete dons do Espírito, a saber: “fortaleza, sabedoria, paciência, inteligência, ciência, piedade, temor de Deus”. 

Já o jovem Henrique Bissa refletiu sobre os frutos do Espírito Santo. “Frutos são correntes que nos ligam com Deus. Cada fruto faz uma corrente que nos liga com o Pai e a caridade une todos esses frutos”, disse. Neste sentido, Frei Vinícius de Oliveira Betim lembrou que a caridade orienta todos os frutos. “No dia a dia a paciência é um dos mais difíceis de colhermos, mas é algo sempre necessário. Paciência é ter respeito ao tempo e às diversas questões que não estão de acordo com o que a gente pensa”.

Simone Pertel discorreu sobre as virtudes tipicamente franciscanas. “É o dever ser, a força ética, o jeito próprio de morar ou de construir a moradia. É o jeito de ser, o caráter franciscano que tem um jeito único de educar, de disciplinar, de cultivar uma identidade. Eu quero e eu posso promover um caminho virtuoso. Esse caminho é realizado de olho no Evangelho e também nas fontes franciscanas. O objetivo é fazer, formar um ser humano melhor, melhorar o humano através dos escritos de São Francisco”. 

“É uma forma de vida, um modo de ser. Colocar o cargo que temos no serviço e não na superioridade. Ordem dos Frades Menores tem a ver com minoridade, com renúncia de status que vai nutrindo um espírito de igualdade”, evidenciou o jovem Kauã Rodrigues Primo.

O primeiro dia do encontro terminou com a confecção das túnicas para a investidura cavaleiresca, vestes similares às dos camponeses na época de São Francisco e logo em seguida com a Celebração Eucarística na Comunidade São Vicente de Paulo, às 19h. Frei Vitório presidiu a Eucaristia e Frei Augusto Luiz Gabriel, Vigário Paroquial e Animador da Evangelização com as Juventudes, concelebrou. Na homilia, Frei Vitório refletiu sobre a Solenidade de São Pedro e São Paulo e destacou as virtudes e valores dos santos.

CÓDIGO DE NOBREZA DA COMUNIDADE SANTA CLARA DE ASSIS

O segundo dia do Alverne (30/06) contou com a participação de Edilza Cavalcante. Ela é da Ordem Franciscana Secular (OFS), de São Paulo, Fraternidade Santa Clara, e também faz parte do Instituto Economia ao Natural.

Com a pergunta ‘quem é você?’ e em duplas, os jovens e lideranças realizaram o exercício de responder a respectiva pergunta. “Falar quem somos independe do que fazemos. Quem somos é muito maior do que nós. Você não é o que você faz. Você pode fazer tudo aquilo que você é se você acessar essa essência. E o que isso tem a ver com o Alverne?”, perguntou Ziza, como é conhecida.

“No mundo lá fora, diferente desse ambiente em que estamos aqui tão à vontade, mas lá no trabalho, na escola, onde o mundo coloca expectativas do ter e do fazer, muito acima do ser e para respondermos a essas expectativas vamos colocando energia. O mundo vai nos forçando a deixar nossa criança no passado. Lá fora cabe a dancinha (dança da amizade) que fizemos? O mundo nos faz ficar duros, chatos, e nós precisamos produzir, fazer”, explicou.

Segundo ela, quando nos distanciamos de quem somos, adoecemos. “E aí chega uma hora que a gente nem lembra quem é. O que vamos fazer hoje é trazer nossa criança, nossa essência, todo o nosso potencial de volta”, frisou. “Quanto mais nos ligarmos a isso, quanto mais nós formos quem nós somos, quanto mais plenitude nós termos na vida - ainda que não tenhamos um carro, uma casa, um bem material -, “Quanto mais soubermos responder a essa pergunta, melhor e plenamente poderemos viver como pessoas. E então, isso tudo tem a ver com Alverne”, completou. 

Sobre o código de nobreza, Ziza usou da imagem de uma árvore. Na raiz estão os valores, a essência, o presente que Deus colocou quando cada um veio para o mundo. E assim, convidou os participantes a escolherem cinco valores. 

“A raiz da árvore é o que a mantém em pé. A raiz é muito maior que a árvore em si. Somos assim também. Se nossa raiz é forte, aguentamos o tranco da vida”, mencionou. “As árvores se comunicam pela raiz e nós também assim o fazemos. Se tivermos raízes entrelaçadas seremos uma comunidade que tem uma causa, um propósito. Uma comunidade são pessoas que se reconhecem pela raiz e se conectam. E quem somos nós na comunidade? Comunidade é a junção dos valores de cada pessoa que faz parte dela”. 

Desta forma, Ziza conduziu a reflexão durante a composição do código de nobreza. E, após a escolha dos cinco valores individuais, os participantes escolheram cinco valores comunitários e em grupos estabeleceram ações concretas a partir dos mesmos. E assim nasceu o Código de Nobreza da Comunidade Santa Clara de Assis, que contemplou em suas raízes palavras como “alegria”, “partilha”, “união”, “discernimento” e "compaixão”. 

Já na Igreja da Comunidade São Vicente, Frei Vitório conduziu o encerramento do encontro com a bênção das túnicas e a investidura. De um a um, os jovens e lideranças apresentaram-se diante do Frei Vitório já revestidos da veste camponesa e com o Código de Nobreza. E, com a imposição da espada sobre os ombros, os jovens foram recordados do compromisso de crescer na virtude, tanto individualmente como comunitariamente.

Após este rico momento, Frei Augusto agradeceu a Frei Vitório e toda sua equipe pelo encontro e em nome da comunidade manifestou o desejo de continuidade do itinerário proposto para o Alverne Provincial. Também agradeceu toda comunidades e os participantes, bem como aqueles que Frei Augusto Luiz Gabrieltrabalharam na realização do mesmo. O evento terminou com o almoço.
Confira o podcast. Clique aqui.

Confira o vídeo. Clique aqui. 

Autor: Frei Augusto Luiz Gabriel

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